Porque não estamos condenados a ver sempre o copo meio-vazio, aqui só se destaca o copo meio-cheio
Esta frase é tirada do último boletim do Banco de Portugal, sobre as projeções para 2012 e 2013.
É uma frasesinha perdida no boletim, e não chamou a atenção da imprensa, mas marca um resultado histórico na economia portuguesa. A balança comercial há décadas que era deficitária.
O indicador de clima económico recuperou ligeiramente em março (...) suspendendo o acentuado perfil descendente iniciado em outubro de 2010. No mês de referência, os indicadores de confiança da Indústria Transformadora e do Comércio aumentara (...). O indicador de confiança dos Consumidores recuperou nos últimos dois meses, contrariando o movimento negativo observado desde finais de 2009.
O Eurostat acabou de publicar um relatório sobre os conhecimentos informáticos dos europeus, e os jovens portugueses ficam bem na fotografia. Quando perguntados se já usaram o computador, 98% deles diz que sim, acima da média europeia de 96%.
Se sabem fazer operações básicas com ficheiros, 96% responde que sim, longe dos 89% dos europeus.
E fazer contas nos programas de folhas de cálculo (como o LibreOffice Calc, ou o MS Excel), 78% dos portugueses sabe, mas apenas 67% dos europeus faz o mesmo.
Apresentações no computador? Portugueses 78% sim, média europeia, apenas 59%.
Se olharmos para a população adulta em geral, os valores nacionais já não são tão positivos, ficando em geral ligeiramente abaixo da média. Se compararmos contudo com os países economicamente mais próximos, Espanha, Itália e Grécia, os portugueses ficam sempre em primeiro ou segundo lugar nos inquéritos.
O número de dormidas de turistas no verão passado em Portugal foi de 19,6 milhões, o que representa uma subida de 8,6%. Este valor fica bem acima do crescimento médio na Europa, que se ficou pelos 4,8%. Fica ainda acima de Itália (onde houve um decréscimo) e da Grécia, e iguala o de Espanha.
Destaque também para a alta taxa de ocupação que foi de 56.8%, um crescimento de 5,1pp havendo apenas 5 países na UE que tiveram melhor prestação.
O desequilíbrio da balança comercial de bens e serviços é um problema histórico da economia portuguesa. Há 12 anos a diferença entre o que comprávamos e vendíamos ao exterior chegou aos -12,4% do PIB. No último trimestre de 2011 contudo a economia portuguesa teve o melhor resultado desde que o INE tem dados. A diferença ficou apenas em -1,2%! Dado que nos últimos trimestres a correcção tem sido feito a um ritmo elevado, mais de um 1 ponto percentual por trimestre, pode acontecer que a balança comercial portuguesa seja excedentária ja no fim do corrente trimestre.
Há quem tenha pena de não haver escudo para poder haver ajustamento, e há quem tenha medo que ajustamento seja lento e logo mais penoso.
Aparentemente ele já está a acontecer e rapidamente. No último trimestre de 2011 Portugal teve a maior queda dos custos de trabalho (que não é a mesma coisa que salários) na Europa, -1,7%, o que compara com a subida média de 2,8% na Zona Euro e 2,7% na UE.
A subida relativa dos custos de trabalho no Sul face à Alemanha tem sido apontada como uma das causas da crise, e aqui também há boas notícias. O custo subiu acima da média na Alemanha, com 3,6%.
A produção industrial cresceu 0,2% de Dezembro para Janeiro na União Europeia. O valor de Portugal foi contudo bem mais alto, na realidade seis vezes mais alto, com 1,2%. Nos últimos 6 meses, a indústria portuguesa apenas cresceu abaixo da média em 2 ocasiões.
Uma das razões que me levaram a criar esse blog foi um disparate dito por alguém que a imprensa repetiu acriticamente até à exaustão. Dizia esse iluminado que Trás-os-Montes seria a região mais pobre da Europa. Já mostrei algumas vezes o quão disparatado isto era.
Saíram hoje os últimos dados do PIB per capita (em paridades de poder de compra) nas várias regiões da UE, e infelizmente para a nossa imprensa negativista ainda não é desta que nos tornámos nos mais pobrezinhos da Europa. A região Norte, a região mais pobre em Portugal, produz 130% mais riqueza que a região mais pobre da Europa, Severozapaden na Bulgária. Mais do dobro da riqueza por pessoa. Sim, ainda só são os dados das regiões grandes, e não das sub-regiões, mas nos anos anteriores não fazia diferença fazer as comparações com umas ou com outras. Portugal continua com duas regiões acima da média comunitária: Lisboa e Madeira.
As saídas de bens aumentaram 10,9% e as entradas de bens diminuíram 7% no trimestre terminado em janeiro de 2012, face ao período homólogo (novembro de 2010/janeiro de 2011), o que determinou um desagravamento do défice da balança comercial no montante de 2 076,7 milhões de euros. No conjunto do ano de 2011, as saídas e as entradas de bens registaram aumentos de, respetivamente, 15,1% e 1,1% face ao ano anterior. O saldo das transações comerciais de bens com o exterior registou uma melhoria
É sabido que a taxa de pobreza em Portugal é bastante alta se contarmos apenas os rendimentos, mas o Estado desempenha posteriormente um papel muito importante na redistribuição. O primeiro valor é de pouco interesse, porque para a vida das pessoas o que conta é o que têm depois de pagos os impostos e recebidos os subsídios e abonos. Portugal acaba por sair melhor na fotografia quando olhamos para esses números finais.
A OCDE foi agora mais longe, e contabilizou os serviços que são oferecidos gratuitamente pelo Estado. Porque uma coisa é ser pobre e ainda ter que pagar saúde e educação, e outra coisa é ser pobre mas contar com o Estado para isso.
O gráfico abaixo mostra exactamente o que acontece quanto contabilizamos este serviços que usufruímos. A taxa de pobreza em Portugal cai fortemente, para 5,8%, colocando-nos na média dos países ricos. E enquanto na média da OCDE, estes serviços reduzem apenas a taxa de pobreza em 4,7 pontos percentuais, em Portugal este valor é de 6,9pp, um dos mais altos entre os países ricos.