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fado positivo

Porque não estamos condenados a ver sempre o copo meio-vazio, aqui só se destaca o copo meio-cheio

fado positivo

Porque não estamos condenados a ver sempre o copo meio-vazio, aqui só se destaca o copo meio-cheio

Eurostat:

O ano de 2011 foi um ano de forte crescimento no turismo português. Houve mais de 40 milhões de dormidas de turistas no nosso país, o que representa um aumento de 7,2% face ao ano anterior. O turismo também cresceu na Europa, mas a metade da velocidade, apenas mais 3,8% de dormidas. Especial destaque para os turistas estrangeiros, cujas dormidas subiram 12,3% no ano passado.

Eurostat:

Há um ano, Lisboa tinha levado a Prata como a segunda capital europeia com menos homicídios por habitante (descontando a pequeníssima capital de Malta com 6 mil habitantes). Mas no relatório do Eurostat sobre crime publicado hoje, a capital portuguesa leva o ouro. Com apenas 0,48 homicídios por cada 100 mil habitantes no período 2007-2009 (o Eurostat faz a média de três anos para evitar flutuações), Lisboa fica à frente de todas as outras capitais em termos de segurança. Bruxelas tem 3,09, Berlim 1,93, Londres 1,92 e Vilnius 7,9 - 20 vezes mais do Lisboa.

A taxa de homicídio no país em geral também nos deixa numa boa posição. Com 1,38, ficamos longe dos 8,31 da Lituânia, e 5,74 da Estónia e melhor que Bélgica, Dinamarca, Irlanda, Finlândia, etc.

INE:

Eu já perdi a conta, mas há dezenas de meses que as exportações têm crescido mais que as importações. O INE diz que isso voltou a acontecer em Novembro passado. As exportações subiram 15,1% e as importações -3,6%. Com isto, Portugal volta a bater um novo record na taxa de cobertura (a quantidade de importações que são compensadas pelas exportações), que chega agora aos 78,6%!

Isto é particularmente impressionante numa altura em que o preço do petróleo (que têm um enorme peso nas importações) em euros está em níveis muito altos.  O INE diz que a taxa de cobertura com países fora da UE é de 141,7% se descontarmos o petróleo.

Já tinha deixado este texto no Facebook do Fado Positivo (onde costumo colocar textos exteriores que não passam aqui pelo blog), mas vale a pena repeti-lo aqui. É um texto de Henrique Raposo no Expresso que não podia reflectir melhor a ideia deste blog!

Destaco duas frases:

 

‎"O português deve ser o único ser à face da terra que fica incomodado quando ouve coisas positivas sobre o seu próprio país."

"os factos positivos sobre Portugal são incómodos para os portugueses, logo, são desprezados."

O espírito queirosiano ficou irritado com o anúncio da Coca-Cola, que tem o descaramento de dizer coisas positivas sobre Portugal, que tem a lata de dizer que Portugal não é o Burundi . Não por acaso, nos últimos dias, muitos amigos e amigas deixaram cair a indignação queirosiana a respeito da coisa: "como se atrevem a dizer bem desta choldra?" (eu prefiro as variações com palavrões). Ora, esta característica portuguesa interessa-me muitíssimo . O português deve ser o único ser à face da terra que fica incomodado quando ouve coisas positivas sobre o seu próprio país. Este anúncio só poderia causar incómodo em Portugal. Se a Coca-Cola tivesse feito um anúncio a gozar e a desprezar Portugal, ui, ui, teria o apoio dos portugueses que, agora, estão irritadinhos com a perspectiva meio otimista. 

Mas, afinal, qual é a mensagem do maldito anúncio? É uma mensagem simples e correcta: apesar da década perdida, Portugal ainda tem o copo meio cheio. Para compreender isto, basta olhar, com humildade, para as vidas dos nossos pais e avós. Em 1950, o português tinha um rendimento per capita de 40% da média da Europa rica; no ano 2000, o nosso rendimento já estava nos 70%. Em 1993, a inflação ainda era de 9%. E eu poderia ficar aqui o resto do dia a apresentar factos (repito: factos) que provam um facto (repito: facto): Portugal foi um dos países que mais cresceu, que mais evoluiu nas últimas gerações. Mas, como é óbvio, o espírito queirosiano já está a abanar a cabeça, já está a dizer "mas este tipo está para aqui com lições de história para quê?". Pois muito bem. Falemos então de factos do presente, falemos de factos retirados dos jornais deste fim-de semana. A tecnológica portuguesa Biodroid produziu um jogo de computador que é um sucesso mundial (Expresso economia). A tecnológica portuguesa Roff abriu filial em Casablanca e já tem escritórios em cidades menores como Paris ou Estocolmo (Sol). A Microprocessador, empresa xpto de Matosinhos que faz a gestão electrónica das auto-estradas, exporta tecnologia para 10 países (i). A Amorim comprou uma empresa na Argentina, no sentido de reforçar a sua posição num dos países-chave do chamado novo mundo vinícola (Sol). Na coluna de João Paulo Martins (Única/Expresso), descobrimos que um restaurante canadiano vende, por dia, 400 garrafas de vinho português. A Adira, maior fabricante lusa de máquinas-ferramenta, exporta que se farta (Expresso economia), e - atenção - a Adira é um dos bons exemplos do sector metalúrgico, cujas exportações subiram 20% em 2011 (Sol). A GL, cadeia alimentar portuguesa, começou a exportar hambúrgueres para Angola, e as marcas desta empresa já exportam para Espanha, Holanda, Suécia, Polónia, Inglaterra e Noruega e - um pormenor - produzem para o Starbucks e Ikea (Sol). Um grupo de hotelaria espanhol abriu um novo hotel no Porto, que resulta da requalificação de 5 edifícios da Ribeira (Jornal de Notícias).

Como dizia há pouco, estes factos foram encontrados em apenas 4 jornais de sexta e sábado. Todos os dias aparecem factos desta natureza. Mas, lá está, não existe uma narrativa mediática e cultural que permita o encaixe desta luminosidade tuga . E, assim, tudo acaba num cenário um pouco cómico: os factos positivos sobre Portugal são incómodos para os portugueses, logo, são desprezados. É como se não existissem. Calma, calma. Não estou a dizer que Portugal é a Suécia mediterrânica. Tenham calma. Estou apenas a dizer que Portugal, apesar de tudo, não é o Burundi . Entre o optimismo desmiolado e o pessimismo apocalíptico, há um espaço para pensar Portugal.