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fado positivo

Porque não estamos condenados a ver sempre o copo meio-vazio, aqui só se destaca o copo meio-cheio

fado positivo

Porque não estamos condenados a ver sempre o copo meio-vazio, aqui só se destaca o copo meio-cheio

O Reputation Institute mede todos os anos a reputação de um país visto de fora, e de dentro. Para a reputação entram factores como a qualidade de vida no país, as condições sociais, o ambiente de negócios, a qualidade da governação, tecnologia, cultura, etc. No estudo de 2010, foram estudados 39 países. Portugal ficou em 19º na reputação do exterior, ou seja a meio da tabela, logo a seguir à França e à frente de Singapura, Estados Unidos, Israel, Coreia do Sul, etc.

Quando se faz as mesmas perguntas aos nacionais, Portugal afunda-se na tabela, passa a 31º entre 35 países! Não colhe o argumento que os portugueses sabem melhor o estado do país, porque o mesmo se poderia dizer de todos os outros os inquéritos aos nacionais. Os estrangeiros teriam que estar positivamente enganados sobre Portugal, e negativamente enganados sobre os outros países  para que esse argumento fizesse sentido... E isso não faz qualquer sentido. Dito de outro modo, o relatório mostra que em geral os nacionais têm normalmente uma opinião melhor sobre um país que os estrangeiros. Em Portugal isto até acontece, mas por um diferença mínima comparada com o resto dos países.

 

(Encontrado no Público)

Continuando a roubar coisas do Público, extractos de uma entrevista com Nuno Ferrand de Almeida, investigador na Universidade do Porto.

 

Em Portugal, temos a sensação que não sabemos o que nos pode acontecer no dia de amanhã. Há um discurso dominante profundamente derrotista...

Tremendo. Nas elites portuguesas instalou-se um pessimismo tremendo...


Como é que um cientista olha para tudo isto?

Sou optimista por natureza. Ainda sou relativamente novo, mas sei exactamente o que era Portugal há 25 anos, quando entrei para a Universidade do Porto, e o que se fez desde aí. Tinha 11 anos no 25 de Abril, mas sei como era Portugal antes disso. Estávamos fora do mundo.

Assistir em menos de 25 anos à transformação que se viveu em Portugal é um privilégio absolutamente extraordinário. Há 20 anos, eu nunca imaginaria que poderia ter um centro que faz investigação no mundo inteiro e que não fica nada atrás dos melhores centros do mundo e estou a falar de Berkeley, Cambridge ou Oxford. E ainda menos imaginaria - falo pela minha experiência, mas isso é visível em muitos outros centros de investigação em Portugal - que seríamos capazes de atrair tantos estrangeiros. Quase 50 por cento dos 1200 investigadores contratados nos últimos dois anos pelo Programa Ciência são estrangeiros e isto diz alguma coisa.


Nem nos apercebemos disso.

Mas isso é fundamental. O caminho tem de passar pela aposta na ciência e isso tem sido feito de uma forma notável. Nos últimos dez, 15 anos conseguimos chegar ao topo dos países que mais têm investido na ciência...


Mas partimos de uma posição muito recuada.

É verdade, não havia nada, ou havia pouco. Mas quando se fala hoje em 5 ou 6 mil artigos científicos publicados e reconhecidos internacionalmente [por ano], isso representa um avanço extraordinário. É quase um milagre. O número de doutorados... E disso as pessoas falam pouco e é preciso que falem muito mais. É preciso falar muito mais das pessoas que trazem conhecimento para cá e que produzem conhecimento cá.

É por isso que me choca muito o pessimismo constante das elites portuguesas. E isso tem reflexo sobre as pessoas. Esse pessimismo cola-se-nos à pele.


Como é que o explica? Mede-se tudo pelo défice?

Em parte é isso. Não sei. Mas não sei porque nunca se olha para o outro país que existe. Existem dois países. Todos os países têm dois países, mesmo que em Portugal essa diferença seja mais acentuada. Mas há 25 anos não tínhamos dois, tínhamos um, que era mau. Hoje temos um país que se distingue nas ciências, nas artes, na literatura, no desporto.


Mas há aquela sensação de que, quando estamos quase a conseguir o nosso objectivo de sermos "europeus", qualquer coisa nos impede. Historicamente, parece que nunca conseguimos percorrer a última milha. Acha que é isso que desmoraliza as pessoas?

Percebo isso. Mas a mim não me desanima. E digo-lhe já porquê: nunca achei que isso fosse possível numa geração. É preciso mais tempo. Estamos a falar de países como a Inglaterra, a França, a Alemanha, que têm uma tradição de mais de 100 anos de investigação e de produção de conhecimento, de reflexão, que nós não tínhamos. Vivíamos completamente marginalizados dessa Europa. Há 30 anos não havia um paper.

Penso que as nossas elites estão um bocadinho gastas na maneira como olham para o lado antigo do que foi Portugal, quando temos ao lado um país a desenvolver-se muitíssimo e a mostrar que é perfeitamente capaz de ombrear com os mais desenvolvidos. Claro que ainda temos o resto, que ainda pesa. E que alimenta essa espécie de frustração que se transmite nesse discurso e que é má, porque leva facilmente as pessoas a desanimarem, a acomodarem-se... Penso que é a nossa obrigação, e também da comunicação social, dar conta desse outro país. Não quero com isso desculpar algumas lideranças...


Justamente, temos hoje muito mais gente educada, universidades muito melhores, uma massa crítica que deveria ser mais exigente. Como é que se explica, então, a fragilidade das lideranças políticas?

Há aí uma contradição para a qual não tenho resposta. Há uma espécie de alheamento em relação ao serviço público e há uma espécie de dissociação progressiva em relação aos partidos e às pessoas que nos governam, que me assusta um pouco... Não sei responder a essa pergunta, só sei que ela faz parte das interrogações que muitos de nós colocamos.


Mas não há também uma responsabilidade das pessoas? Talvez que o país mereça uma coisa melhor e não se esteja a esforçar-se o suficiente para a ter?

Talvez. São contradições e desequilíbrios que julgo que resultam de transformações muito aceleradas do tecido social português. Este pode ser um momento em que isso seja muito visível.

A página SCImago tem uma enorme base de dados sobre a investigação científica em todo o mundo e todas as áreas, que descobri através do Público.

Nela podemos ver o número de artigos científicos publicados por instituições portuguesas. Este número triplica dos 3655 em 1999 para os 10837 em 2008!

Obviamente que não foi só em Portugal que houve um aumento de produção científica, mas Portugal cresceu mais rápido. De 2007 para 2008 cresce 19%, enquanto a Europa Ocidental cresce apenas 3%, e o mundo 2%.  Enquanto em 1996 Portugal era responsável por apenas de 0,76% da ciência na Europa, em 2008 este número já foi de 2%! Comparando com o mundo inteiro, a mesma conclusão: Portugal duplicou a sua importância a nível mundial em 10 anos.